Alberto Rocha Ela nasceu em Buriti Bravo, no Maranhão, em 1923, século XX. Naquela época, o Brasil já começava a respirar desenvolvimento. Foi criada a primeira rádio do País, a Sociedade do Rio de Janeiro, inaugurado o Copacabana Palace, no Rio de JAneiro, aprovação da Lei Adolfo Gordo para combater a liberdade de imprensa e o fim da Revolução Civil do Rio Grande do Sul.
Foi nesse cenário que nasceu Izabel Alves de Almeida, mais conhecida como Bela do Chico. Ela, que casou 4 vezes, já passou por 26 presidentes da República.
Bela aprendeu a ser parteira ainda na adolescência. Pelas mãos dela vieram ao mundo mais de 400 crianças, nos quase 80 anos de profissão de parteira no interior do então norte de Goiás, hoje Tocantins.
Seu campo de ação era a região das areias, que compreende vários povoados, lugarejos, fazendas, chácaras e localidades isoladas na época nos Municípios de hoje de Guaraí, Tupiratins, Itapiratins, Pedro Afonso, Tupirama, entre outros.
Quando era mais nova sabia o nome de quase todas as crianças, mas agora, com 96 anos de idade, tem dificuldade de lembrar o nome dos filhos de “pegação”. Mas muitos ainda a chamam de “mãe Bela”.
Bela nunca cobrou pelos serviços, sempre fazia por vocação e amor à profissão. De vez em quando, as famílias doavam galinha, porco, banana, ovos como pagamento.
Bela diz que estava sempre de prontidão; cada parto era uma história diferente. Quando era chamada no meio da noite com chuva, pegava a velha capa e um candeeiro para iluminar a estrada, montava na garupa do cavalo e seguia para mais um parto. Também, assim que era avisada, dava um nó na saia, o qual só era desatado quando terminava o parto.
Hoje, com energia elétrica, com as facilidades da vida moderna e o avanço da medicina, tudo mudou, e o parto é feito pelo médico obstetra.
Mas aos 96 anos de idade e lúcida, Bela diz que daquela época só ficaram as lembranças que renascem a cada instante. Ela nem sabe que o dia da parteira é comemorado no dia 20 de janeiro. Perguntada se lembra de alguma homenagem que tenha recebido ao longo da vida, ela diz que não se lembra de nada. Apesar disso, Bela diz que, de vez em quando, aparece alguém batendo na sua porta para conversar e agradecer por ter vindo ao mundo pelas mãos dela.
Em tom nostálgico, mas sempre com um sorriso nos lábios, a mãe Bela diz que faria tudo de novo. “Estou pronta, pode me chamar, mas acho que vou descansar”, diz a parteira, que vive numa casinha da Rua 2, em Guaraí, sob os cuidados dos netos e do único filho, Valdemar Brusegue.
A profissão de parteira O Ministério da Saúde não sabe dizer quantas parteiras tradicionais existem no Brasil. Mas é possível que a profissão está em extinção. Mesmo assim, uma nova geração de parteiras tradicionais resiste e busca a valorização da classe. O Projeto de Lei 359 de 2015 está parado no Congresso Nacional à espera da regulamentação da profissão de parteira no Brasil.