14/12/2022 às 08h22min - Atualizada em 14/12/2022 às 08h22min
O que pode ser o amor?
O ano está terminando, não foi fácil, pandemia, inflação, guerra, eleições e Copa do Mundo.Chegamos até aqui. Na correria do trabalho, me dividindo com as ocupações profissionais que tenho, entre elas, ministrar aulas de Língua Portuguesa na Rede Estadual no Colégio Guilherme Dourado para turmas de 3º ano do Ensino Médio noturno. Lá conheci a aluna Mirely Nascimento. Muito disposta, questionadora, sempre se destacando com vontade de aprender, uma aluna com futuro promissor, basta permanecer com essa garra é claro. Trabalhando em sala de aula produção de textos e poesia, não há como o aluno fugir da escrita, tem que produzir, é tarefa certa buscar o eu lírico dentro de cada um. Assim fizemos, e os alunos trabalharam bem. Cada um apresentou seu texto, um poema, uma poesia enfim.
Ao ler todos os textos me deparei com o trabalho da Mirely, que me chamou atenção. Lemos todos em sala, foram excelentes trabalhos, mas este atraiu os olhares da turma, então resolvi compartilhar com todos vocês.
Professor Luis Boenergio
O que pode ser o amor?
A história sempre embeleza o amor através de músicas, filmes, novelas, textos, livros, teatro e tantos outros incontáveis meios de submeter o ser humano ao consumismo emocional. E é sempre o amor vivido e compartilhado entre duas pessoas que se amam ardentemente. O amor avassalador que destrói conflitos, expulsa os males, venera o tempo e reconstrói a alma.
Mas há outro tipo de amor. O tipo mais cruel, aquele que quase mata suas vítimas. Ele se chama "amor não correspondido". E eu sei muitas coisas sobre ele. A maioria das histórias de amor são sobre pessoas que se apaixonaram umas pelas outras. Mais e o restante de nós? Nós que somos consumidos pelo desespero, movidos pelo desejo e agraciados pelos gracejos? Nós que nos apaixonamos sozinhos? E nós que vivemos do "e se?"
E se eu falasse a verdade? E se eu fizesse algo diferente? E se eu fosse um pouco mais suficiente?
E se eu, ao invés de dizer meias palavras, meias verdades, meios pensamentos, eu simplesmente dissesse a verdade? E se eu sou apenas tudo aquilo que me assola e que me consome dia e noite?
E se eu não passar de um drama de quem em relação ao amor sempre sentiu pouco! Viveu pouco!Foi retribuída por pouco!
Somos vítimas de uma relação de mão única. Somos a parte que no final sempre sairá descrente de amores futuros, destroçados por momentos vividos, despedaçados pelo amor não correspondido e desolados por momentos que nunca serão construídos.
O amor não é tão bom quanto parece. As vezes costumo associá-lo ao cigarro. Na primeira tragada ele te anima
Na segunda te vicia, na terceira te conforta e nessas tragadas ele com o tempo te mata.
E nunca é uma morte silenciosa porque ao invés de simplesmente te matar de uma forma rápida, ela dificulta sua respiração, destrói órgãos importantes e condena não só sua existência mais sim a de todos que estão próximos.
Quando tudo explode não se distingue quem é culpado de quem não é, quem ajudou no vício e quem com todas as forças tentou abrir seus olhos, quem tentou apenas te ver cada vez pior de quem realmente tentou
te ajudar.
Então, o que faremos a respeito? Tentaremos esconder o inescondível? Perdemos as esperanças de viver o inefável? Sucumbimos ao que não se pode ser nomeado? Rastejamos na tentativa de ir contra a correnteza porque não sabemos a onde estamos sendo levados? Para sempre viveremos na sombra do que poderia ter acontecido.
Nosso coração quer nos enganar e nosso cérebro nos humilha.
Mais e quem nos conforta? Quem nos tira do submundo do caos enquanto ainda nos encontramos na superfície da agonia? E mesmo assim com tudo isso, o mais doído ainda será o gritar em silêncio, o viver do quase possível, o tormento do "sou substituível" e os pensamentos do, e se?
Mirely Nascimento