Crônica da vida real - Alberto Rocha - É Jornalista
Para responder a esta pergunta você precisa sentar no primeiro banco da praça e começar a rezar ou a orar. Quem sabe se Pedro Alves Cabral não aparece para você vestido de Chapolin Colorado prometendo ajuda. Onde você se encaixa?
João e Maria dão um passeio pela cidade com os dois filhos pequenos. Pegam o carro e vão para a Via Lago à noite, que brilha. Lá, as crianças correm, brincam pelo calçadão e se encantam com as tartarugas no lago. Nos prédios de luxo ao lado, gente jogando tênis. Um dos filhos diz: - pai, quero morar aqui-. A mãe responde:- tu é doido, é? Depois, a família dá uma esticada até ao novo shopping. Maria diz: - é aqui que vamos gastar o nosso dinheiro fazendo compras nas lojas de luxo.
Na volta para casa, a família passa pelo centro da cidade, depois dá uma volta pela Marginal Neblina e Via Norte. Tudo perfeito. A família volta para casa e cansada. Na segunda-feira, um monte de boletos para pagar: é internet, netflix, telefone, água, luz, cartão de crédito, shopee,e outros.
Já o seu Raimundo Nonato, 70 anos, mora em um bairro afastado do centro e só anda a pé ou de mototáxi. Ele é aposentado com um salário mínimo, graças a Deus. Seu Nonato fez um empréstimo, que come a metade do provento. Com o restante, ele paga a prestação do celular da neta, remédio de diabetes e da pressão alta, paga água, luz, gás, taxa de iluminação pública e de esgoto e comida. Ele vai se virando. Na última vez que seu Nonato foi receber o aposento quase morreu de raiva e de vergonha. A moça do caixa disse que o salário dele tinha sido bloqueado por falta de pagamento de imposto. Foi aí que seu Nonato descobriu como é difícil viver.
Tá ruim, mas tá bom.