08/07/2022 às 07h54min - Atualizada em 08/07/2022 às 07h54min

Anunciando o reino de Deus e expulsando os vendilhões do templo


 
Não sou formado em teologia, mas como Cristão leigo gostaria de analisar as leituras da missa do dia 06.07.2022, a propósito dessa reportagem publicada no portal “O Tocantins”. Na primeira leitura o profeta Oséias aponta que Israel era uma “vinha exuberante e dava frutos para o seu consumo”, mas essa exuberância o fez erguer altares a outros deuses, por isso deverá receber seu castigo, crescendo “espinhos e abrolhos sobre seus altares”. O profeta termina de forma lapidar: “Semeai justiça entre vós e colhereis amor; ...” (Oseias 10,12). Hoje, conforme denuncia profeticamente o Papa Francisco, ergue-se altares ao deus lucro.

No Evangelho (Mateus 10,1-7) Jesus chama os doze discípulos e dá aos mesmos poderes para curar todo tipo de doença e expulsar os espíritos maus, ir às ovelhas perdidas da casa de Israel e no caminho anunciar que: “O reino dos céus está próximo”. Quais seriam essas doenças a serem curadas no nosso tempo e o que seria efetivamente esse reino dos céus?
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Para responder essa pergunta, em Mateus 13,24-43, Jesus conta três parábolas: A do semeador que semeou trigo e o joio cresceu junto; a do grão de mostarda e; da mulher que mistura semente em uma boa quantidade de farinha. Ao explicar essas parábolas para seus discípulos, especialmente do semeador fazendo alusão ao fim do mundo, Jesus adverte: “O filho do homem enviará seus anjos, que tirarão do seu reino todos os que causam escândalos e promovem iniquidades, e os lançarão à fornalha acesa, onde haverá choro ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no reino de seu pai. Que tiver ouvidos que escute bem!”

Veja-se que, sempre que fala em reino dos céus, Jesus coloca quem promove a justiça de um lado e, de outro, quem gera iniquidade. Não sei exatamente quem foi o padre e nem quem foi o empresário que o atacou no conflito exposto na reportagem citada. Sei, todavia, que, em um país que produz grãos para abastecer boa parte da humanidade e tem quase metade da população em situação de insegurança alimentar e mais de 33 milhões de pessoas passando fome (dados de 2022 da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), não se pode falar de justiça ou equidade. Denunciar essa situação é obrigação do discípulo escolhido e enviado por Cristo, como tão bem anunciou o evangelho do dia da pregação.   

Durante todo o tempo que Jesus Cristo esteve pregando na terra somente uma vez ele demonstrou uma atitude violenta, exatamente quando expulsou os vendilhões do templo dizendo: “Não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio!” (João 2, 13-25). A igreja não pode se prestar a ser um local onde pessoas abastadas se dirigem para aplacar sua consciência. Exploram os pobres e os deixam na penúria durante o dia e à noite vão barganhar no templo.

Tocantins é um dos Estados mais desiguais do Brasil, onde cerca de 80% da população vive com menos de um salário mínimo. Araguaína não é diferente. Aqui pobreza é um projeto político dos mais ricos para manterem os pobres sob sua dependência. Ao invés de justiça querem semear eternamente uma falsa caridade da qual eles mesmos se beneficiam. Cuidado com o caridoso que ganha com sua caridade.

No sermão da montanha Jesus fala: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Parabéns ao padre por cumprir sua missão profética. Todo repúdio à essas manifestações de ódio que têm se espalhado pelo país, em nossos templos, contra profetas que denunciam essas injustiças. Quando foi que empoderamos essa gente ou passamos a suportar esse tipo de manifestação? Talvez esteja na hora de expulsarmos alguns vendilhões dos nossos templos. “Quem tiver ouvidos que escute bem!”

LEADOR MACHADO
Leigo membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz do Regional Norte 3 – ligada à CNBB


 

 
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