05/06/2019 às 08h45min - Atualizada em 05/06/2019 às 08h45min

Não haverá mais fogueira ardente em Cremanópolis; povo está livre do fogo

Alberto Rocha - Alberto Rocha


Alberto Rocha - crônica
 
Ninguém  me falou, eu mesmo vi com os próprios olhos. Foi uma visão apocalíptica.
 
A cidade era bonita e o nome era Cremanópolis. Pessoas elegantes desfilavam em seus carros luxuosos pelas avenidas largas e bonitas, nem faziam questão dos impostos. Na outra ponta, pobres e mendigos, a maioria, se cruzavam pelas ruas agitadas  num vai e vem  sem fim.
 
Na rua, gente anunciava de tudo:
 
- Olha a banana, o abacaxi, a laranja; ei, você, vem cá, compra isso, compra aquilo; lojas ofereciam botas, cintos, camisas listradas para a festa do gado. Lá em cima, um avião alardeava o circo. O barulho me lembrou a rua 25 de Março, em São Paulo.
 
No meio daquele agito, mais outra confusão: a notícia de que o cemitério público da cidade não tinha mais vagas para enterrar cadáveres; os corpos deveriam ser queimados na fogueira com requintes de crueldade; as cinzas deveriam ser recolhidas por questões higiênicas e para evitar crime ambiental, pois o ar já está poluído demais.
 
Apressei-me e passei em frente à Casa de Leis. Lá, 17 legisladores discutiam calorosamente a fogueira ardente. Tremi, pois vi que o meu futuro cadáver estava nas mãos deles. Queima ou não queima o cadáver? Exporta ou não exporta o morto? Levar para onde? Jogar no rio Lontrópolis? No Jacubópolis? Grande era o debate; eu, pálido, pensava: eles estão selando o destino do meu cadáver. Enquanto isso, mandaram aumentar 7 vezes mais  a temperatura da fornalha, me dava calafrio só em pensar.
 
Finalmente, a discussão termina no plenário; ouve-se um silêncio profundo no auditório e na platéia que acompanhava atônita e apreensiva. Agora é a votação... Queima ou não queima? Suspense geral!...
 
Fim da votação, fim da agonia.... Os mais exaltados se abraçavam e gritavam: acabooouu, acabooouu; parecia o Galvão Bueno narrando final de copa do mundo... Os legisladores decidiram que, em Cremanópolis, nenhum morto será jogado na fogueira. Não haverá mais fogo. Acaboouu, acabooouu....
 
Resumo da visão: em Cremanópolis, os vivos vão continuar vendendo seus apetrechos e a andar nos seus carrões pelas largas avenidas; os pobres e mendigos vão continuar pobres e mendigos; Já os mortos podem dormir em paz, não haverá mais fogueira da inquisição. Liberdade! Viva Cremanópolis!  Viva o Bolsonaro, Viva o Lula.
 
 
 
 
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