As equipes do projeto Foco no Fogo, lideradas pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), percorreram nesta semana a região do Jalapão com visitas aos municípios de São Félix e Mateiros, este último que ocupa, atualmente, o terceiro lugar no ranking de focos de calor no Estado, segundo a Defesa Civil estadual, para realizar o trabalho de conscientização contras as queimadas ilegais.
Iniciado em maio, o projeto conta com a adesão de diversas instituições, uma verdadeira força tarefa que atua na fase de prevenção. Essa união de forças foi ressaltada pelo secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Marcello Lelis. “O trabalho executado com o apoio das 32 instituições que atuam no Projeto Foco no Foco, somado ao apoio dos municípios, é fundamental para juntos vencermos a guerra contra as queimadas ilegais e incêndios florestais no Estado”, destacou.
Durante o percurso árduo pelo Jalapão, as equipes ouviram relatos emocionantes e pedidos de alerta das comunidades. Um deles vem da dona Noemi Ribeiro da Silva, 70 anos, conhecida como doutora na comunidade quilombola do Mumbuca, município de Mateiros, por sua sabedoria popular de manejo das plantas medicinais para tratar as pessoas doentes da comunidade. Dona Noemi não escondeu sua preocupação caso o fogo chegue no povoado.
“O desastre que não pode ocorrer é o fogo porque é prejuízo para os passarinhos e muito mais para o Capim Dourado. Esta orientação do projeto precisa se fortalecer, porque nós precisamos ganhar esta guerra, ter cuidado máximo, e, nós quer [sic] que seja assim, menos prejuízo, menos fogo e isto é muito importante”, afirmou a doutora, lembrando que já chegou a perder uma casa por causa de um incêndio na comunidade anos atrás.
De casa em casa no Mumbuca, o time do Foco no Fogo pediu aos moradores atenção e cuidado com a queima, inclusive, das folhas no quintal das moradias. “No ano retrasado quase queimou a vegetação da Prainha. O fogo aqui é um grande problema, principalmente em agosto e setembro, porque a pessoa fuma, joga na estrada, o tempo está seco, quando vê já se alastrou tudo”, relatou a presidente da Associação da Comunidade Mumbuca, Railane Ribeiro da Silva.
Além da comunidade quilombola Mumbuca, as equipes também visitaram os povoados de Galhão, Fazenda Nova, Galheiros e Carrapato, além de escola municipal Ernestina Vieira Soares e a Escola Estadual Estefanio Teles das Chagas, onde as crianças receberam cartilhas com conteúdo de educação ambiental.
Segundo a supervisora da Área de Proteção Ambiental do Jalapão, Rejane Ferreira Nunes, servidora do Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), “o projeto é super importante porque 90% do município é área protegida e a gente trabalha muito com a queima prescrita, então o projeto Foco no Fogo vem reforçar este trabalho de conscientizar a população contra as queimada ilegais”, afirmou.
São Félix
Antes de Mateiros, as equipes formadas por integrantes da Defesa Civil, Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins), Exército, Corpo de Bombeiros Militar (CBMTO), Energisa, Departamento Estadual de Trânsito (Detran/TO) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) percorreram comunidades rurais no município de São Félix. O trabalho começou logo cedo, antes das 8 horas, com um café-da-manhã, seguida por uma carreata pelo município para despertar a atenção dos moradores, programação que é feita em todas as cidades visitadas pelo Foco no Fogo. Logo após, seguiram em direção aos povoados.
A primeira comunidade visitada foi a quilombola do Prata. Ao ser abordado, o aposentado Oliveira Rodrigues de Sousa, 86 anos, e seu filho Olivaldo Pereira de Sousa, 44 anos, carpinteiro, manifestaram preocupação com o fogo que atinge a mata ciliar dos córregos e ribeirões, destruindo as nascentes. Olivaldo, com tristeza, mostrou no fundo do quintal uma das nascentes do córrego Prata, que antes era utilizado pela comunidade para banho e hoje praticamente secou.
“Na chapada eu quero é proteção, fogo só para queimar os alimentos. Nossas águas foram embora, as árvores puxam a chuva e se não tem árvore, não tem chuva”, reclamou a quilombola Darlene Francisca de Sousa, 45 anos, destacando a importância de conscientizar as pessoas para não atear fogo no Cerrado.
”E é justamente este o nosso trabalho, orientar e conscientizar a população que a queimada ilegal só traz prejuízos tanto para o meio ambiente, como para a saúde das pessoas e, também, alertar que até 30 de outubro é fogo zero, por força da portaria 101 de 2023 emitida pelo Naturatins”, alertou a gerente de Educação Ambiental da Semarh, Thays Kelly Marinho.
São Félix conta com cerca de 1.750 moradores e é formado pelas comunidades rurais do Prata, Jaburu, Campinas, Por enquanto, Brejão, Caracol, Bela Vista, Barrinhas e Cordilheiras.
Segundo o coordenador da Defesa Civil Municipal, Wilson Gomes da Silva Almeida, o trabalho de conscientização é importante para mudar a cultura dos proprietários rurais, principalmente dos criadores do gado, que não tem pasto para alimentar o seu rebanho e precisa colocar fogo para renovar a vegetação e assim alimentar os animais.
“O problema é que cometem um crime ambiental já que o fogo destrói as nossas veredas, que protegem nossas nascentes”, afirmou Wilson Gomes.
Ainda de acordo com o coordenador, o município conta com dez brigadistas para atuar no combate ao fogo. Opinião que foi reforçada pelo secretário de Turismo e Meio Ambiente do município, Djalma Cirqueira Pugas. “A cultura da queimada aqui é muito forte entre os criadores de gado e, por isso, este trabalho do Foco no Fogo é muito importante”, reiterou o gestor municipal.