Os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) revelam que os acidentes por animais peçonhentos são um problema significativo de saúde pública no Brasil. O Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Tocantins (HDT-UFT), gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), é referência no atendimento de acidentes com animais peçonhentos, dispondo de equipe multiprofissional para prestar suporte especializado às vítimas.
De acordo com a chefe da Unidade de Clínica Médica do HDT, Cristina da Silva Milhomens, acidentes com animais peçonhentos são considerados agravos de notificação compulsória no Brasil, “representam um importante problema de saúde pública, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde há maior incidência de serpentes, escorpiões e aranhas”, afirma. A profissional alerta sobre como proceder em caso de acidente com animais peçonhentos, a exemplo de manter a calma e lavar o local da picada com água e sabão, “não fazer torniquete, cortes, sucção ou aplicação de substâncias caseiras (álcool, fumo, terra, pó de café etc.)”, recomenda.
Evitar movimentar a vítima desnecessariamente também está entre as recomendações, “pois o veneno se espalha mais rapidamente com o aumento da circulação”, pontua a chefe da Unidade de Clínica Médica. É importante levar a vítima imediatamente ao hospital e, se possível, levar o animal (morto) ou uma foto para ajudar na identificação da espécie.
Atendimento especializado
O HDT-UFT é referência em atendimentos de média e alta complexidade, contando com e equipe capacitada para atendimento de urgência e emergência em casos de acidentes com animais peçonhentos, como serpentes, escorpiões e aranhas. O hospital também atua em conjunto com o Centro de Informações Toxicológicas (CIT) e realiza notificação obrigatória dos casos através do sistema de vigilância em saúde. “Em alguns casos, dependendo da gravidade e do tipo de acidente, o paciente pode ser encaminhado às unidades para realizar a aplicação do soro antiveneno específico, no qual temos no hospital” destaca Cristina Milhomens.
Como se proteger?
Medidas de prevenção no domicílio e no ambiente de trabalho:
• Evitar acúmulo de entulhos, lixo e materiais de construção próximos às residências.
• Manter terrenos limpos, com grama aparada.
• Vedação de frestas, buracos em paredes, rodapés e ralos.
• Vistoriar roupas, calçados, toalhas e roupas de cama antes de usar.
• Manter camas afastadas das paredes.
• Uso de equipamentos de proteção individual (EPI) como luvas e botas ao trabalhar em áreas de risco (roçados, matas, plantações).
• Evitar mexer em tocas, montes de pedras ou lenhas com as mãos desprotegidas.
• Cuidados redobrados em períodos chuvosos, que favorecem a migração desses animais para áreas urbanas.
Os riscos dos acidentes com animais peçonhentos são maiores para crianças e idosos. “Crianças e idosos são mais vulneráveis aos efeitos do veneno devido à menor reserva fisiológica e imunológica”, afirma Cristina Milhomens. Para esse grupo, há uma maior chance de evolução para formas graves, como choque, insuficiência respiratória ou falência renal, além de reações mais intensas ao veneno, desidratação e complicações sistêmicas mais rápidas.
Esses acidentes podem causar internações prolongadas; sequelas graves (como necrose e amputações) e óbitos evitáveis, “especialmente em áreas rurais e com difícil acesso ao serviço de saúde, onde geram o maior número dos nossos atendimentos, municípios circunvizinho” frisa a chefe da Unidade de Clínica Médica do HDT.
Período com maior incidência dos acidentes
Os acidentes com animais peçonhentos ocorrem ao longo de todo o ano, mas há aumento nos períodos chuvosos e quentes (primavera e verão) por favorecerem a reprodução e migração dos animais. Cristina Milhomens comenta que entre os meses de outubro e março, especialmente no Tocantins e regiões similares do Brasil, há uma incidência maior dos acidentes com animais peçonhentos, “esse período coincide com maior atividade agrícola, umidade do solo e presença de criadouros naturais, o que eleva o risco, principalmente em áreas rurais e periurbanas”, pontua.
O HDT-UFT, como unidade de referência em acidentes com animais peçonhentos, recebe frequentemente pacientes que não sabem identificar com precisão o animal agressor — seja por não terem visto o momento do acidente ou por se tratar de animais não reconhecidos pela vítima ou pela comunidade. Nesses casos, a equipe multiprofissional realiza o diagnóstico clínico baseado nos sinais e sintomas apresentados pela vítima. “Quando o animal é trazido (vivo ou morto), é feita a tentativa de identificação, com apoio de fontes técnicas confiáveis, colaborando com a vigilância epidemiológica e, em alguns casos, com a pesquisa científica sobre espécies menos conhecidas ou não endêmicas da região”, explica Cristina Milhomens.
Sobre a Ebserh
O HDT-UFT faz parte da Rede Ebserh desde 2015. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.